O EFEITO DO MÉTODO PILATES NA FIBROMIALGIA: Um Relato de Caso
Hingryd Alves
Patrícia Cilene Freitas Sant’ Anna
Resumo: A fibromialgia é uma patologia crônica, caracterizada por causar fortes dores musculoesqueléticas, sendo que o exercício físico é considerado o padrão ouro para o tratamento. Assim, esse estudo teve por objetivo analisar os efeitos do Método Pilates e de recursos terapêuticos utilizados nos atendimentos de uma paciente acometida por fibromialgia. Relato de Caso, realizado na Clínica Escola de Fisioterapia da Unisinos, São Leopoldo- RS. Sendo a amostra composta por uma paciente com diagnóstico de fribromialgia crônica, avaliada pré e pós intervenção prática de exercícios do Método Pilates. Houveram resultados significativos na força muscular para a extensão de punho bilateralmente, na minimização das dores, aumento da qualidade de vida e interação social. Melhoras significativas foram observadas após a prática do método Pilates nos sintomas da doença e para realizar
as atividades de vida diária.
1 INTRODUÇÃO
A Fibromialgia é uma doença reumática, considerada como a terceira condição musculoesquelética mais recorrente no mundo (SARZI-PUTTINI et al., 2020), atingindo cerca de 7% da população em geral (SILVA; THOMAZI; PONZI, 2021), em sua maioria, mulheres (SIRACUSA et al., 2021), sendo o diagnóstico mais frequente na meia idade (SARZI-PUTTINI et al., 2020). Caracteriza-se por causar dor crônica generalizada, rigidez muscular, hiperalgesia em pontos específicos e sintomas psicossomáticos, bem como fadiga, cefaléia, distúrbios do sono, depressão, ansiedade, disfunções cognitivas e gastrointestinais, que impactam diretamente na redução da capacidade funcional e convívio social (ARAÚJO; DESANTANA, 2019; DE MEDEIROS et al., 2020). É consenso que esses múltiplos componentes demandam uma abordagem multiprofissional.
Dentre estes profissionais, está o fisioterapeuta, que durante os picos álgicos da fibromialgia pode auxiliar introduzindo em seus atendimentos os recursos massoterapeuticos, liberação fascial (YUAN; MATSUTANI; MARQUES, 2015) e correntes analgésicas (DA SILVA SALAZAR et al., 2017) que irão agir pontualmente nos tecidos, resultando em alívio das dores. Como primeira escolha entre as terapias não medicamentosas, deve estar a prática regular de exercício físico (FRANCO et al., 2019), podendo ser aeróbico, alongamentos e ou exercícios resistidos (BUSCH et al., 2013; MACFARLANE et al., 2017).
O método Pilates é considerado um grande meio auxiliar no tratamento de fibromiálgicos, que além de ser um exercício global, multiarticular (CAGLAYAN et al., 2021), restaura a extensibilidade do tecido da fáscia (CATHCART et al., 2019), melhorando a flexibilidade geral do corpo, estabilização do núcleo, correção postural, ao mesmo tempo em que promove a consciência e coordenação corporal por meio da associação da respiração com o movimento (DE MEDEIROS et al., 2020).
Este relato de caso teve por objetivo analisar os efeitos do método Pilates e dos recursos terapêuticos utilizados no atendimento de uma paciente acometida por fibromialgia na Clínica de Fisioterapia da Unisinos, com o propósito de minimizar as queixas principais, bem como agir na manutenção do estado geral de saúde, promovendo aumento da qualidade de vida.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de caso que retrata a realidade de uma paciente de 55 anos, secretária aposentada, diagnosticada com fibromialgia há vinte e cinco anos, acompanhada pela Clínica Escolade Fisioterapia da Unisinos há no mínimo 10 anos, que tem como facilitador, uma forte rede de apoio. Para a avaliação e reavaliação foram utilizados os seguintes instrumentos: MRC, Goniometria, Equilíbrio Unipodal, Questionário Sobre o Impacto da Fibromialgia e Widespread Pain Index.
Paciente com dor no esporão calcâneo direito, cervicalgia, lombalgia, dor no cotovelo e na ATM, além do histórico de doenças associadas: Hipotireoidismo – realizou Tireoidectomia-, HAS, epicondilite lateral à direita, pata de ganso, rizartrose em mama esquerda em outubro de 2020, juntamente com quimioterapia e radioterapia, somado a uma redução de força muscular para a flexão de punho bilateralmente, diminuição de flexão e extensão de dedos da mão direita e Tenossinovite de Quervain.
Realiza treinamento funcional e caminhadas regularmente, porém, mesmo tendo hábitos de vida saudáveis sente necessidade do acompanhamento fisioterapêutico, por observar estabilização das dores durante os atendimentos e piora do quadro geral da dor nos períodos de recesso dos acadêmicos. Além disso, as dores se apresentam mais fortes durante a manhã e intensificam em atividades como varrer a casa. Por isso, conta com a ajuda de uma faxineira a cada 15 dias.
Mora sozinha, não tem filhos e realiza suas atividades de vida diária de forma independente, com leve dificuldade. Em relação aos hábitos de sono, atualmente não apresenta mais dificuldade para dormir, fazendo uso de placa dentária por conta do bruxismo. Quanto as suas atividades de participação, tem uma vida bem ativa, encontra-se sempre com a família e amigos e participa do Força Rosa há um ano.
2.1 Diagnóstico Cinético
Funcional
M.F.S. relata ter HAS, Hipotireoidismo, epicondilite lateral à direita, pata de ganso, rizartrose e em 2020 fez retirada de um quadrante da mama esquerda juntamente ao tratamento com quimio e radioterapia. Chega ao atendimento de Fisioterapia por conta das dores causadas pela Fibromialgia na ATM, cintura escapular e calcâneos. Além disso, tem dificuldade para varrer o chão devido a dor em paravertebrais durante a rotação do tronco. Apesar das dores mantém uma vida social boa, não havendo maiores dificuldades em realizar suas AVDs, tem hábitos de vida saudáveis, realiza treinamento funcional e caminhadas, não apresenta déficit de equilíbrio nem limitações articulares, porém possui redução de força muscular na flexão de punho bilateralmente e diminuição de força ao realizar flexão e extensão dos dedos da mão direita. Mora sozinha, mas mantém contato próximo com as 3 irmãs e com as amigas. Como facilitadores recebe assistência da Clínica Escola de Fisioterapia da Unisinos há mais de 10 anos, além do apoio encontrado no Força Rosa.
2.2 Tratamento Fisioterapêutico
Com base no quadro apresentado, foram realizados dois atendimentos, com média de 45 minutos, por semana, totalizando vinte e quatro encontros, sendo utilizadas as seguintes técnicas recomendadas pela literatura: terapia manual, liberação fascial e ultrassom nos pontos gatilhos hiperalgicos – quando necessário – e para a manutenção da homeostase do tecido fascial e da amplitude de movimentos foram utilizados exercícios básicos do método Pilates tanto no solo quanto em aparelhos.
Todos os exercícios seguiram os princípios do método, que são eles: concentração, controle, fluidez, respiração, centralização e precisão. Além disso, durante a execussão de cada movimento foram realizadas as devidas correções por meio de feebacks verbais e tateis. Sendo que os exercícios, quando praticados nos aparelhos, foram resistidos e ou facilitados por molas.
Para realização dos exercicios clássicos de Pilates foram utilizados aparelhos da marca Metalife no laboratório de Pilates da Unisinos.
3 RESULTADOS
Através da avaliação de MRC, a paciente apresentou redução de força muscular para a extensão de punho bilateralmente, totalizando 56 pontos (tabela 1). Após vinte e quatro atendimentos, a paciente foi reavaliada e atingiu 60 pontos, apresentou força muscular preservada para realizar todos os movimentos antigravitários.
Foi utilizada a Goniometria para avaliar a amplitude de movimento, e a Avaliação Unipodal para avaliar o
equilíbrio, sendo que o resultado para ambos os testes resultaram em parâmetros dentro da normalidade. Apresentou leve dor repentina para realizar a extensão do polegar E e a abdução de quadril bilateralmente, que classificou como possível encurtamento.
Já a qualidade
de vida e função de participação foi avaliada a partir do Questionário
Sobre o Impacto da Fibromialgia, validado para a população brasileira, o seguinte quadro traz os resultados da
avaliação (quadro 1A), realizada em março de
2022, e da reavaliação (quadro 1B), realizada em junho de 2022, após o período de intervenção com o método Pilates.
Para avaliar as características de dor
centralizada, foi utilizado a Avaliação Widespread
Pain Index, como mostrado no quadro a seguir, que retrata os valores coletados Pré e Pós intervenção.
4 DISCUSSÃO
Este estudo buscou analisar os efeitos do método Pilates e dos recursos fisioterapêuticos utilizados no atendimento de uma paciente acometida por fibromialgia na Clínica de Fisioterapia da Unisinos. O principal achado foi a estabilização das dores após a intervenção com os exercícios do método Pilates.
Embora atualmente haja maior precisão no diagnóstico clínico da fibromialgia, a etiopatogenia ainda é controversa, devido à ausência de um mecanismo claro (PLAUT, 2022), podendo estar associada à fatores genéticos, ambientais e neuromoduladores (HÄUSER; FITZCHARLES, 2018).
Isso se dá por ser uma disfunção multicausal, podendo ser desencadeada por: predisposição genética, relação mente- corpo, fatores emocionais- cognitivos, bem como pela capacidade biopsicossocial de lidar com o estresse (SARZI-PUTTINI et al., 2020). De Medeiros et al., (2020) concorda, afirmando que muitos fibromialgicos apresentam altos níveis de estresse, frustrações, ansiedade e sentimentos depressivos.
Ao longo dos últimos anos foram desenvolvidas muitas evidências científicas quanto ao tratamento da fibromialgia com exercício físico (ROGER-SILVA et al., 2018) e descobriu-se que esta é a melhor estratégia para a melhora da dor e de outros sintomas, tornando-se padrão ouro para o tratamento de fribromiálgicos (DE MEDEIROS et al., 2020).
Além da prática regular, um estudo recente sugeriu, após comparar a prática de Tai Chi com exercício aeróbico, que exercícios mente-corpo podem ser mais eficazes, tornando-se a melhor escolha para pacientes com fribromialgia (WANG et al., 2018). Fator que concorda com o presente estudo, levando em consideração que a prática de Pilates possui características semelhantes.
Foi possível observar que os exercícios do método Pilates foram benéficos quanto à estabilização do quadro álgico e minimização das dores nas atividades de vida diária da paciente em questão, bem como, foi fortemente aderido concordando com Franco et al., (2019), ao afirmar que o Pilates pode causar menores dores musculares, gerando maior prazer e estímulo para a implementação e continuidade da prática, mesmo que fibromialgicos tenham a tendência a ser mais resistentes quanto ao exercício físico. Além disso, o método divide os equipamentos e os exercícios em níveis de progressão, o que serve como estímulo para a auto superação a cada prática.
5 CONCLUSÃO
A prática do Método Pilates duas vezes por semana durante três se mostrou uma opção benéfica nos sintomas da Fibromialgia, auxiliando na estabilização dos quadros álgicos, na realização das atividades de vida diária e na socialização com o meio externo. Sugere-se que sejam realizados novos estudos com um período de intervenção maior e que possam comparar os efeitos do Método Pilates no solo e nos aparelhos separadamente.
Trabalho realizado pela Hingryd Alves
Orientada pela Profa. Dra. Patrícia Cilene Freitas Sant’ Anna
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